Gravado ao vivo no museu da imagem e do som de São Paulo (M.I.S),
sob a direção musical de Guilherme Rondon, O long play “Pantanal alerta Brasil”
é um dos projetos significativos musicais no que tange a ecologia, e que foi
muito além do LP.
A canção analisada, “estranhas coincidências”, já iniciara exitosa
pelos músicos que a compuseram, Guilherme Rondon e Paulinho Simões.
A música fora executada por João Figar, Guilherme Rondon,
Toninho Porto, Celito e Geraldo Espíndola.
Letra amorosa e gnóstica, faz alusão utilizando elementos do
imaginário pantaneiro e por que não dizer do centro-oeste onde a cultura
popular é permeada de misticismo e religião.
Nessa letra poderia ser possível que os autores fizeram
menção a linguagem dos sinais.
Nessa perspectiva, deus, cosmos ou qualquer outro nome para
o suposto criador utiliza-se das coincidências como signos linguísticos para
conversar com os mortais e se possível oferecer-lhes conselhos.
Em estranhas coincidências, o eu lírico da canção informa ao
ouvinte que o tempo é contínuo, sem retorno.
Essa experiência ocidental de tempo contrasta com a do
indígena que assimila o tempo cronológico de outra maneira, impossível de ser
absorvida pelo homem rural ou urbano.
Na segunda oitava da letra da canção, os versos abordam os
sinais físicos, catástrofes e os inúmeros profetas apocalípticos, Paulo Simões
retomara esse tema na música “sete sinais’ que compusera em parceria com Almir
Sater. Nesse conjunto de oito versos a letra sugere que as pessoas estão ‘cegas’
por que há muita informação, muita luz e pouca reflexão ao assimilar as
notícias que são absorvidas pelas pessoas em geral: “ – quando as luzes são
intensas cegam nosso olhar”...
O refrão composto por seis versos encerra de modo
gnóstico, místico e metafórico ao afirmar que se os deuses não omitissem as
respostas procuradas pelo homem pós renascentista, gutembergueano e capitalista
poderíamos perceber nossa fragilidade, efemeridade e impotência diante de
acontecimentos motivados por forças maiores.
" Somos distraídas crianças num carrossel que não sabemos deter"
Além dessa reflexão com o metafísico, a letra dessa música
faz um mea culpa do ser humano e a
degradação do seu próprio habitat.
O carrossel é a vida, o tempo cronológico entre a concepção
e o óbito.
A ilusão de um “muro” entre a infância e a vida adulta é
desfeita pelo viés gnóstico que entende que a alma não perece ou envelhece.
Independente da visão semiótica que se aborda a canção, o9
deleite de escuta-la é atitude quase obrigatória para conhecer a arte
pantaneira, ecológica, mística, gnóstica sul-mato-grossense.
Estranhas
Coincidências
Estranhas coincidências
Insistem em revelar
Essa triste consciência
De termos tão pouco a salvar
Idade da inocência
Idade da inocência
Não há como retornar
Nem distâncias tão imensas
Pra se caminhar
Estranhas coincidências
Palavras soltas no ar
São sinais e advertências
De tudo que vai ter lugar
Avisos e profecias
Avisos e profecias
Tentamos ignorar
Quando as luzes são intensas
Cegam nosso olhar
Se os deuses não guardassem
Alguns mistérios no céu
Seria simples se perceber
Que somos distraídas crianças
Num carrossel
Que não sabemos deter
Que não sabemos deter
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