quinta-feira, 2 de março de 2017

Estranhas coincidências - Guilherme Rondon e Paulo Simões



     Gravado ao vivo no museu da imagem e do som de São Paulo (M.I.S), sob a direção musical de Guilherme Rondon, O long play “Pantanal alerta Brasil” é um dos projetos significativos musicais no que tange a ecologia, e que foi muito além do LP.
     A canção analisada, “estranhas coincidências”, já iniciara exitosa pelos músicos que a compuseram, Guilherme Rondon e Paulinho Simões.
    A música fora executada por João Figar, Guilherme Rondon, Toninho Porto, Celito e Geraldo Espíndola.
   Letra amorosa e gnóstica, faz alusão utilizando elementos do imaginário pantaneiro e por que não dizer do centro-oeste onde a cultura popular é permeada de misticismo e religião.
   Nessa letra poderia ser possível que os autores fizeram menção a linguagem dos sinais.
   Nessa perspectiva, deus, cosmos ou qualquer outro nome para o suposto criador utiliza-se das coincidências como signos linguísticos para conversar com os mortais e se possível oferecer-lhes conselhos.
   Em estranhas coincidências, o eu lírico da canção informa ao ouvinte que o tempo é contínuo, sem retorno.
   Essa experiência ocidental de tempo contrasta com a do indígena que assimila o tempo cronológico de outra maneira, impossível de ser absorvida pelo homem rural ou urbano.
   Na segunda oitava da letra da canção, os versos abordam os sinais físicos, catástrofes e os inúmeros profetas apocalípticos, Paulo Simões retomara esse tema na música “sete sinais’ que compusera em parceria com Almir Sater. Nesse conjunto de oito versos a letra sugere que as pessoas estão ‘cegas’ por que há muita informação, muita luz e pouca reflexão ao assimilar as notícias que são absorvidas pelas pessoas em geral: “ – quando as luzes são intensas cegam nosso olhar”...
   O refrão composto por seis versos encerra de modo gnóstico, místico e metafórico ao afirmar que se os deuses não omitissem as respostas procuradas pelo homem pós renascentista, gutembergueano e capitalista poderíamos perceber nossa fragilidade, efemeridade e impotência diante de acontecimentos motivados por forças maiores.
                      " Somos distraídas crianças num carrossel que não sabemos deter"
   Além dessa reflexão com o metafísico, a letra dessa música faz um mea culpa do ser humano e a degradação do seu próprio habitat.
   O carrossel é a vida, o tempo cronológico entre a concepção e o óbito.
   A ilusão de um “muro” entre a infância e a vida adulta é desfeita pelo viés gnóstico que entende que a alma não perece ou envelhece.
  Independente da visão semiótica que se aborda a canção, o9 deleite de escuta-la é atitude quase obrigatória para conhecer a arte pantaneira, ecológica, mística, gnóstica sul-mato-grossense.



Estranhas Coincidências

Estranhas coincidências
Insistem em revelar
Essa triste consciência
De termos tão pouco a salvar
Idade da inocência
Não há como retornar
Nem distâncias tão imensas
Pra se caminhar
Estranhas coincidências
Palavras soltas no ar
São sinais e advertências
De tudo que vai ter lugar
Avisos e profecias
Tentamos ignorar
Quando as luzes são intensas
Cegam nosso olhar

Se os deuses não guardassem
Alguns mistérios no céu
Seria simples se perceber
Que somos distraídas crianças
Num carrossel
Que não sabemos deter